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31 julho, 2007

Alguns momentos para Deus

Uma vez um padre estava percorrendo sua igreja ao meio-dia... ao passar pelo altar decidiu ficar perto para ver quem tinha vindo orar.

Nesse momento se abriu a porta. O padre franziu o rosto ao ver um homem chegando perto pelo corredor: o homem estava sem fazer a barba há vários dias, vestia uma camisa rasgada e tinha seu agasalho tão gasto que as beiradas já tinham começado a desfiar.

O homem se ajoelhou, inclinou a cabeça, e logo se levantou e saiu.


Durante os dias seguintes, o mesmo homem, sempre ao meio-dia, estava na igreja carregando uma maleta... se ajoelhava brevemente e logo saia de novo.


O padre, um pouco receoso, começou a suspeitar que se tratasse de um ladrão, razão pela qual um dia se postou na porta da igreja e, quando o homem estava prestes a sair, perguntou-lhe:


- O quê você faz aqui?


O homem disse que trabalhava em uma fábrica a caminho da Igreja e tinha meia hora livre para almoçar e aproveitava esse momento para orar.


- Eu só fico por uns momentos, você sabe, porque a fábrica fica um pouco longe.

Por isso eu apenas me ajoelho e digo: "Senhor, só vim novamente para te contar quão feliz me faz quando vem ao meu encontro. Não sei orar muito bem, mas penso em ti todos os dias...Por isso, Senhor, aqui é o João se reportando"

O padre, sentindo-se um tonto, disse a João que estava tudo bem e que ele seria bem-vindo na igreja quando quisesse.


O padre se ajoelhou diante do altar, sentiu seu coração ser derretido pelo grande calor do amor e, enquanto suas lágrimas corriam pelas bochechas, em seu coração repetia a oração de João:


- "Senhor, só vim para te contar, quão feliz me faz quando vem ao meu encontro através de meus semelhantes. Não sei orar muito bem, mas penso em ti todos os dias...Por isso, Senhor, aqui sou eu se reportando"


Um certo dia o padre reparou que o velho João não tinha vindo. Os dias continuaram a passar sem que João voltasse para rezar. Continuava ausente, por isso o padre começou a ficar preocupado, até que um dia foi à fábrica perguntar por ele; ali lhe informaram que João estava doente, e que mesmo os médicos estando muito preocupados com sua saúde, ainda acreditavam que tinha a possibilidade de sobreviver.


O tempo que João esteve no hospital trouxe muitas mudanças. Ele sorria todo o tempo e sua alegria era contagiosa. A enfermeira chefe não conseguia entender por quê João estava tão feliz, já que nunca havia recebido nem flores, nem cartões, nem visitas.


O padre se aproximou ao leito de João com a enfermeira, e esta lhe disse, enquanto João escutava:


- Nenhum amigo havia vindo visita-lo, ele não tem a quem recorrer.

Surpreso, o velho João disse com um sorriso:

- A enfermeira está errada... mas ela não pode saber que todos os dias, desde que cheguei aqui, ao meio-dia, um querido amigo meu vem, se senta aqui na cama, me segura as mãos, se inclina sobre mim e diz:


-" João, só vim para te contar, Quão feliz me fez desde que encontrei sua amizade E tem vindo todos os dias ao meu encontro. Sempre gostei de ouvir tuas orações, Penso em ti a cada dia... Por isso, João, aqui é o Senhor se reportando."

26 julho, 2007

Recado de uma mãe ao "governo" Lula


Aos governantes e à família brasileira,

Perdi o meu único filho.

Ninguém, a não ser outra mãe que tenha passado por semelhante tragédia, pode ter experimentado dor maior.

Mesmo sem ter sido dada qualquer publicidade à missa que ontem oferecemos à alma de meu filho, Luís Fernando Soares Zacchini, mais de cem pessoas compareceram. Em todos os olhos havia lágrimas. Lágrimas sinceras de dor, de saudade, de empatia. Meus olhos refletiam todos os prantos derramados por ele, por mim, por seu filhinho, por sua esposa, por todos parentes e amigos. Por todos os sacrificados na catástrofe do Aeroporto de Congonhas.

Há muito eu sabia que desastres aéreos iriam acontecer. Sabia que os vôos neste país não oferecem segurança no céu e na terra. Que no Brasil a voracidade de vender bilhetes aéreos superou o respeito à vida humana. A culpa é lançada sobre um número insuficiente de mal remunerados operadores aéreos ou sobre as condições das turbinas dos aviões. Um Governo alheio a vaias é responsável pelo desmonte de uma das mais respeitáveis e confiáveis empresas aéreas do mundo, a VARIG, em benefício da TAM, desde então, a principal provedora de bilhetes pagos pelo Governo.

Que a opinião pública é desviada para supostos erros de bodes expiatórios, permitindo aos ambíguos incompetentes que nos governam continuarem sua ação impune. Que nossos aeroportos não têm condições de atender à crescente demanda de vôos cujo preço é o mais caro do mundo.

Quando os usuários aguardam uma explicação, à falta de respeito ao cidadão juntam-se o escárnio e a cruel vulgaridade de uma ministra recomendando aos viajantes prejudicados que relaxem e gozem. Assuntos de alcova não condizentes com a reta postura moral e respeito exigidos no exercício de cargos públicos.

Assessores do presidente deste país eximem-se da responsabilidade e do compromisso com a segurança de nosso povo exibindo gestos pornográficos. Gestos mais apropriados a bordéis do que a gabinetes presidenciais. Ao invés de se arrependerem de uma conduta chula, incompatível com a dignidade de um povo doce e amável como o brasileiro, ainda alardeiam indignação, único sentimento ao alcance dos indignos. Aqueles que deveriam comandar a responsabilidade pelo tráfego aéreo no Brasil nada fazem exceto conchavos. Aceitam as vantagens de um cargo sem sequer diferenciarem caixa preta de sucata. Tanto que oneraram e humilharam o país ao levar o material errado para ser examinado em Washington. Essas são as mesmas autoridades agraciadas com louvor e condecorações do Governo em nome do povo brasileiro, enquanto toda a nação, no auge de sofrimento, chorava a perda de seus filhos.

Tudo isto eu sabia. A mim, bastava-me minha dor, bastava meu pranto, bastava o sofrimento dos que me amam, dos que amaram meu filho. Nenhum choro ou lamento iria aumentar ou minorar tanta tristeza. Dores iguais ou maiores que a minha, de outras mães, dos pais, filhos e amigos dos mortos necessitam de consolo. A solidariedade e amor ao próximo obrigam-nos a esquecer a própria dor.

Não pensei, contudo, que teria de passar por mais um insulto: ouvir a falsidade de um presidente, sob a forma de ensaiadas e demagógicas palavras de conforto. Um texto certamente encomendado a um hábil redator, dirigido mais à opinião pública do que a nossos corações, ao nosso luto, às nossas vítimas. Palavras que soaram tão falsas quanto a forçada e patética tentativa que demonstrou ao simular uma lágrima. Não, francamente eu não merecia ter de me submeter a mais essa provação nem necessitava presenciar a estúpida cena: ver o chefe da nação sofismar um sofrimento que não compartilhava conosco.

Senhores governantes: há dias vejo o mundo através de lágrimas amargas mas verdadeiras. Confundem-se com as lágrimas sinceras e puras de todos os corações amigos. Há dias, da forma mais dolorosa possível, aprendi o que é o verdadeiro amor. O amor humano, o Amor Divino. O amor é inefável, o amor é um sentimento despojado de interesse, não recorre a histriônicas atitudes políticas.

Não jorra das bocas, flui do coração!

E que Deus nos abençoe!

Adi Maria Vasconcellos Soares

Porto Alegre, 21 de julho de 2007."