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05 janeiro, 2006

Fotografia

Desgastarmo-nos ao opinar se a fotografia é ou não arte seria uma longa trajetória para definir arte e não arte, desde as origens do homem até a época atual. Delimitar parâmetros para arte e não arte pós Revolução Industrial seria uma forma de recorrer ao preestabelecido, não ao que se propõe a analisar. Partamos do princípio que a fotografia, como invenção, transformou o caráter geral das artes. É claro que aparece no mundo das artes plásticas tradicionais como uma espécie de intrusa perturbadora, bastarda.
Para se conseguir uma boa fotografia, não há que se somar uma máquina a um homem com um dedo no disparador. Não apenas isso. O ato de ver e registrar o que foi visto envolve outros mecanismos que não os meramente técnicos. Inaugurar um espaço requer sensibilidade, mecanismos de seleção e descoberta: luz e volume, cor e espaço.
Atrás da máquina, um ser chamado fotógrafo funciona como elemento mediador entre o que vê e o que cria/recria. Caçador de emoções, acontecimentos e movimentos, embalsama "a verdade" das coisas para o futuro, amanhã, depois e sempre: posteridade! A realidade convertida em símbolo da realidade, e este símbolo gera sentimentos dos quais o receptor participa. Um observador mais educado esteticamente compreende a diferença entre uma foto e o que ela representa. Essa diferença pode ser chamada de "mensagem", e as emoções por ela despertadas não pretendem, necessariamente, comunicar conceitos que devam ser expressos com e por palavras. O mais importante é a informação ­ mensagem que não pode ser de todo comunicada. É aquela que entre as semelhanças e diferenças do repertório emissor-receptor, pode ser sentida como a representação visual, sensível e particular dos seres e das coisas desse mundo de meu-deus-do-céu- nos-acuda: arte como documento, pão que se divide entre os homens. É preciso compreender fotografia não como imitação da realidade, mas como extensão e recriação dela. É claro que a possui como suporte, porém, em seu texto-conjunto revela algo que não é puramente visual. Dessa maneira, o significado de uma imagem, enquanto texto, é uma outra imagem. E, como essas imagens já não se bastam, buscam sentido na legenda, palavra sonora ou coisa que as valham. Ao embalsamador de movimentos cabe reproduzir o encontro entre a realidade física e a mente criadora do homem: cabe cavar o espaço ­ terreno intermediário entre o homem e o seu universo.